Ronaldo do Rego Macedo é fundamentalmente um pintor. Com tratamento cuidadoso ele alcança uns vermelhos, cor que recria a cada quadro numa aventura muito pessoal, travando delicado duelo entre contenção e expansão, matéria e vacuidade. Sua pintura é táctil. Pode e deve ser tocada. Observadores atentos, suscetiveis à provocação das texturas sutis, à ardência e às diferenças de temperatura dos vermelhos, laranjas, brancos, perceberão uma sensualidade afirmativa que remete à constituição de uma erótica da pintura, enquanto corpo, enquanto matéria encarnada.

O próprio artista entende a pintura como uma experiência autônoma: o sentido está ali e não fora da tela. Vibrante, mas silenciosa, ela não se refere a qualquer objeto exterior, não reproduz a realidade visível do mundo circundante e encontra-se acima de discursos ou justificativas extra plásticas. Ao soterrar camadas de tinta, deixando o registro do seu gestual vigoroso que se debate contra os limites precisos do quadro, Macedo chega ao resultado desejado, muita energia irradiante, muito mais cores.

Por Lúcio de Rezende, 2002